"A recusa fecha o diálogo e a nossa função é manter a palavra em jogo." - Eliza Maciel
- Eliza Maciel

- 4 de dez. de 2024
- 2 min de leitura
Tenho seguido aqui na rede e frequentado cursos de vários analistas bem mais jovens do que eu, quase todos referenciados à teoria lacaniana, que certamente nos conduz a Freud. Gosto da consistência teórica que demonstram, de uma oratória mais coloquial, de diferenças sutis em suas leituras, que me trazem questões, da articulação que vêm fazendo com nosso tempo, retirando poeira e mofo de posicionamentos datados do século passado.
Admiro e agradeço pela reparação que vêm fazendo da Psicanálise por antigas teorizações limitadas, exclusivas, retrógradas e, o pior de tudo, preconceituosas e, por isso mesmo, lesivas à sua própria teoria calcada na subjetivação e na singularidade. Tudo isso me encanta, me acaricia e me faz crer que a Psicanálise pode retirar do senso comum a impressão de que o analista é aquele sujeito que vive fazendo cara de “eu sei, mas não te conto”... Sinto muito prazer em aprender e refletir com eles.
Entretanto, há uma questão que sempre me intriga e entristece. A posição radical que assumem em recusar o diálogo com outros campos do saber que não sejam a Filosofia e as Artes. Afirmam, todos eles, assumindo um lugar de mestria e arrogância, que um Psicanalista só o é se pautar sua clínica única e exclusivamente na teoria psicanalítica. Falam de um lugar de certeza, de certeza radical.
Alguns pontos me intrigam a esse respeito. O primeiro deles vem da própria teoria à qual nos referenciamos. Nela, certezas são da ordem do imaginário e, portanto, são tão necessárias quanto são o terreno certo para serem questionadas. Todo fechamento em certezas nos aprisiona, impede a solução criativa, e nos coloca em um sistema hermético, adoecido e paralisante.
O segundo ponto é que a Psicanálise, historicamente, nos seus momentos mais ricos e fascinantes, se deu e se revolucionou pela dissidência. Nossa posição é dissonante, não conformada às métricas estabelecidas, quaisquer que sejam elas.
Terceiro: sempre me pergunto diante dessa posição fechada que encontro, quanto conhecem daquilo que recusam? Quanto se abrem às questões antes de estabelecerem suas posições? Ora, não é exatamente esse o maior antídoto ao preconceito? Não é esse o nosso compromisso?
A recusa fecha o diálogo e a nossa função é manter a palavra em jogo






















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