INTERNAÇÃO
- Eliza Maciel
- 27 de dez. de 2024
- 1 min de leitura
Estive internada durante uma semana. Foram dias instáveis, de muita vulnerabilidade.
Fui atravessada por fios, monitores e agulhas. Quando entravam no quarto dizendo que estava calor, olhava o termômetro no relógio de parede daquele mundo paralelo e lia 23º.
Pela televisão, as notícias eram de terror: uma médica baleada e morta dentro de um hospital militar, jovens e crianças sem vida por balas com endereços incertos e injustos, um rapaz de 32 anos que morreu sentado, no que deveria ser uma Unidade de Pronto Atendimento.
No meio da minha fragilidade, fui me dando conta do privilégio de ser tratada num dos melhores hospitais do Rio de Janeiro, atrás de vidros blindados, que me separavam da comunidade apinhada em pequenas janelas, no morro à minha frente.
Fui tratada por mãos gentis, e sorrisos largos de meninas, a maioria preta, que se desdobravam e se multiplicavam, pra tornar meus dias menos difíceis.
Entre agradecida e envergonhada, perguntei a algumas o que podia fazer para retribuir o que recebia. Todas me disseram a mesma coisa: responder a pesquisa de satisfação e citar o meu nome.
Em outras palavras: dar-me reconhecimento.
Nessa passagem de ano, quem sabe podemos começar por aí – dar reconhecimento a tantos para quem costumamos oferecer a indiferença. Muitas vezes penso que é isso que pode inaugurar um caminho menos injusto e, por isso, menos violento. Espero e desejo que esse seja o norte para 2025. A gente se vê lá.
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