IMOBILIZAR
- Eliza Maciel

- 2 de fev. de 2022
- 1 min de leitura

Ela tinha 11 anos e enfrentava a morte do pai, sem aviso prévio. Voltava da escola e se fechava no quarto, recusando qualquer insistência do mundo lá fora. A mãe, preocupada, pediu à analista da menina uma sessão. Ela concordou.
Era fevereiro, no Rio fazia 40 graus. A menina foi de blusa de veludo, calça, meia e um boné que lhe tapava a cabeça e os olhos. Na sessão, sentou longe da mãe e recusava seu convite para que viesse para perto.
A mãe começou a falar do seu medo de não conseguir acesso. A menina interrompia dizendo doer o dedo mindinho, depois o dente, depois a canela... A analista perguntou à mãe se ela ouvia que tudo doía. A mãe argumentou que não eram essas as dores... A analista insistiu: a dela é assim.
Saíram dali e entraram na farmácia. A mãe comprou um gel canforado e foi para casa. Perguntou para a menina onde doía mais e ouviu: no dedinho. Massageou com cuidado.
— Melhorou?
— Não vai imobilizar?
— Você acha que precisa?
— Quando a dor é muito forte, a gente imobiliza para andar com o resto.
— Ah! Isso depende... às vezes, a gente vai mexendo devagarzinho para não enrijecer tudo.
— Isso é depois. Quando já dá para fazer fisioterapia.
— Filha, quando a gente imobiliza uma parte; começa a compensar no corpo e acaba doendo tudo. Aí sim a gente fica sem conseguir se mexer.






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